quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Oswaldo Montenegro

METADE
Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito, a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que amo seja pra sempre amada mesmo que distante
Porque metade de mim é partida, a outra metade é saudade.
Que as palavras que falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço, a outra metade é o que calo.
Que a minha vontade de ir embora se transforme na calma e paz que mereço
Que a tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso, a outra metade um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso que me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito
E que o seu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo, a outra metade é cansaço.
Que a arte me aponte uma resposta mesmo que ela mesma não saiba
E que ninguém a tente complicar, pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia a outra metade é canção.
Que a minha loucura seja perdoada porque metade de mim é amor
e a outra metade também.

Martha Medeiros

O contrário de bonito é feio, de rico é pobre, de preto é branco, isso se aprende antes de entrar na escola. Se você fizer uma enquete entre as crianças, ouvirá também que o contrário do amor é o ódio. Elas estão erradas. Faça uma enquete entre adultos e descubra a resposta certa: o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença.

O que seria preferível, que a pessoa que você ama passasse a lhe odiar, ou que lhe fosse totalmente indiferente? Que perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira, esquecido por completo da sua existência? O ódio é também uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações: seu nome não consta mais do cadastro.

Para odiar alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, precisamos de um coração, ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos energia, neurônios e tempo. Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela face e angústia no peito. Para odiar, necessitamos do objeto do ódio, necessitamos dele nem que seja para dedicar-lhe nosso rancor, nossa ira, nossa pouca sabedoria para entendê-lo e pouco humor para aturá-lo. O ódio, se tivesse uma cor, seria vermelho, tal qual a cor do amor.

Já para sermos indiferentes a alguém, precisamos do quê? De coisa alguma. A pessoa em questão pode saltar de bung-jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou uma prisão perpétua, estamos nem aí. Não julgamos seus atos, não observamos seus modos, não testemunhamos sua existência. Ela não nos exige olhos, boca, coração, cérebro: nosso corpo ignora sua presença, e muito menos se dá conta de sua ausência. Não temos o número do telefone das pessoas para quem não ligamos. A indiferença, se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada.

Uma criança nunca experimentou essa sensação: ou ela é muito amada, ou criticada pelo que apronta. Uma criança está sempre em uma das pontas da gangorra, adoração ou queixas, mas nunca é ignorada. Só bem mais tarde, quando necessitar de uma atenção que não seja materna ou paterna, é que descobrirá que o amor e o ódio habitam o mesmo universo, enquanto que a indiferença é um exílio no deserto.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Marta Maria de Oliveira

Porque Amo Você...
Por que amo você ?
Amo você porque quero, sem apegos ...
Amo você, no cinza suave do dia frio que amanhece...
Amo você no cheiro da relva, molhada pelo orvalho...
Amo você, no azul do céu que se mistura ao verde das montanhas,
na linha do horizonte...
Amo você, no aroma bom do café matinal, nos lares que despertam...
Amo você, no frio gostoso das manhãs chuvosas...
Amo você, no canto dos pássaros que começam a trinar aos primeiros sinais
da luz que anuncia o novo dia...
Amo você, nos múltiplos sons e murmúrios da vida que acorda, em toda a
natureza, com o romper da aurora...
Amo você, no odor fresco da brisa matinal...
Amo você em cada célula do meu corpo que desperta...
Amo você por estar viva e poder usufruir do que o dia me reserva...
Amo você na lida diária, no que faço, penso, digo, oro...
Amo você nas coisas que ouço, vejo, toco...
Amo você no meu cotidiano...
Amo você, nas rotinas que exerço...
Amo você, no caminhar pelas ruas molhadas, depois da garoa fria da manhã...
Amo você, na chuva forte que cai, lava e fertiliza a terra...
Amo você, no sol que aquece, brilha e tudo faz nascer com seu fogo dourado...
Amo você, na vegetação e flores que nascem nos bosques e campinas...
Amo você, no cair da tarde, com róseo pôr-de-sol...
Amo você, nos sons da natureza que procura aqueitar-se para o descanso
no final do dia...
Amo você, na noite que nos convida ao sono e ao repouso...
Amo você nos meus sonhos noturnos...
Amo você, nas meríades de estrelas que enfeitam o espaço sideral quando a
noite desce no Planeta...
Amo você, no aconchego das casas, com o delicioso aroma do jantar...
Amo você em todos os meus momentos...
Amo você, porque jamais saio de mim prá lhe encontrar...
Amo você nos versos que componho...
Amo você, porque você está em mim e eu em você...
Amo você, porque amo o amor...
e o amor... é Deus em nós...

poesia de MARTA MARIA DE OLIVEIRA (nov/2003)

Florbela Espanca

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... A dolorida...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que alguém sonhou.
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!

Lya Luft

Amizade.
.. E bom mesmo é que na amizade, se verdadeira, a gente não precisa se sacrificar nem compreender nem perdoar nem fazer malabarismos sexuais nem inventar desculpas nem esconder rugas ou tristezas. A gente pode simplesmente ser: que alívio, neste mundo complicado e desanimador, deslumbrante e terrível, fantástico e cansativo. Pois o verdadeiro amigo é confiável e estimulante, engraçado e grave, às vezes irritante; pode se afastar, mas sabemos que retorna; ele nos aguenta e nos chama , nos dá impulso e abrigo, e nos faz ser melhores: como o verdadeiro amor.

Lya Luft para a coluna Ponto de vista da Revista Veja.

Lya Luft

Canção das Mulheres, de Lya Luft

Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos bracos sem fazer perguntas demais, Que o outro note quando eu preciso de silencio e nao vah embora batendo a porta, mas entenda que eu nao o amarei menos soh porque estou quieta, Que o outro aceite que me preocupo com ele, e nao se irrite com a minha solicitude e se ela for excessiva, saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor, Que o outro perceba minha fragilidade e nao ria de mim e nem se aproveite disso, e se eu faco uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque tambem preciso poder fazer tolices tantas vezes, Que se estou apenas cansada o outro nao pense logo que eu estou nervosa, doente ou agressiva, nem diga que eu reclamo demais, Que o outro sinta quando me doi a ideia da perda e ouse ficar comigo um pouco no lugar de voltar logo a sua vida, nao porque lah estah sua verdade, mas talvez o seu medo ou a sua culpa, Que se começo a chorar sem motivos depois de um dia daqueles, o outro nao desconfie logo que a culpa eh dele ou que nao o amo mais, Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cumplice, mas sem fazer alardes nos dizendo, olha que estou tendo muita paciencia com você, Que o seu entusiasmo por alguma coisa o outro nao o diminua, nem lhe chame de ingenua, nem queira fechar essa porta necessaria que se abre para mim, por mais tola que lhe pareca, Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro nao me enfronha, nem me ridicularize, Que quando levanto de madrugada e ando pela casa o outro nao venha logo atras de mim reclamando: mas que chateação essa sua mania, volta logo para a cama, Que se eu peco um segundo drink no restaurante o outro nao comente logo: poxa mais um, Que se eu eventualmente perco a paciencia, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admira, Que o outro filho, amigo, amante, marido, nao me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando nao estou podendo ser nada disso, Que finalmente o outro entenda que mesmo se as vezes me esforco, nao sou e nem devo ser a mulher maravilha, mas apenas uma pessoa vulneravel e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa, uma mulher.

Fernanda Young

Às vítimas da inveja alheia




Amiga, se você se sente perseguida por pessoas invejosas, tenho duas boas notícias. A primeira: não se trata de paranóia. Sim, realmente existem invejosos tentando te prejudicar. Sei disso porque você é uma mulher interessada em ser bonita e bem informada, livre de preconceitos, já que lê a Claudia e esta minha coluna - só isso já é motivo de inveja, nos dias de hoje. Fora suas outras qualidades, que você sabe quais são. Os invejosos também sabem. E não te suportam por causa disso.

Mas calma. O fato de haver invejosos querendo te prejudicar não quer dizer que eles vão conseguir. Pelo contrário. Teorias antes não comprovadas, sobre a inveja ser uma merda, acabam de ter confirmação científica. Sendo essa a minha segunda boa notícia.
Sempre escutamos dizer que os invejosos se dão mal, porém essa é uma tese que carece de provas concretas. Pois todos escondem suas invejas, tornando impossível reunir documentação sobre alguma ocorrência. E, como a inveja é um conceito relativo por natureza, um invejoso jamais confessa.

Felizmente, por descuido ou burrice, certos indivíduos me forneceram um vasto dossiê a respeito. Primeiro, tornando públicas as suas tentativas de prejudicar os outros. Depois, tendo uma vida pública, que confirmou que eles se deram mal fazendo aquilo.

Vejam o caso de Bernardo A. Em 1997, ele havia escrito dois livros e fez uma resenha num grande jornal sobre uma jovem autora, que acabava de publicar seu segundo romance. Disse que ela estava atraindo a curiosidade de quem se interessa por novos autores "com títulos charmosos e bom marketing", mas que era "preciso tomar cuidado para que não se sedimentem expectativas e avaliações apressadas". Segundo Bernardo, a jovem escritora fracassaria, pois lhe faltava "firmeza, substância estilística e requinte na feitura das frases". Pois bem, essa escritora lançou mais quatro romances, todos com suas edições esgotadas, sendo que o último ficou cinco semanas na lista dos 10 mais vendidos da Veja. E Bernardo? Bernardo escreveu mais dois livros, que ninguém ouviu falar, e hoje é diretor executivo do instituto cultural de um banco.

Outro caso interessante é o de Sérgio D. Em 2003, ele escreveu, no mesmo jornal, uma pesada crítica contra uma nova apresentadora e roteirista de televisão, chamando-a de estúpida e perigosa por só falar besteiras e "merdas" em seu "desarranjo cérebro-intestinal". Bom, nos últimos três anos, essa moça escreveu três seriados de sucesso na Globo e passou a apresentar um programa com seu nome num canal a cabo. Sérgio? Sérgio chegou a tentar fazer um programa de TV pela internet e hoje tem um blog, onde faz comentários sobre séries americanas. Respire tranqüila, portanto, amiga perseguida. Agora está comprovado: com as pedras que te atiram, construirás o castelo da tua glória.

Fernanda Young

Carta-desabafo-padrão



Nome da cidade, tanto de tanto de dois mil e tanto.

Nome do destinatário

Envio esta carta porque nunca mais quero você na minha frente. E dessa vez falo sério. Nunca mais quero ouvir a sua voz, mesmo que seja se derramando em desculpas. Nunca mais quero ver a sua cara, nem que seja se debulhando em lágrimas arrependidas. Quero que você suma do meu contato, igual a um vírus ao qual já estou imune.

A verdade é que me enchi. De você, de nós, da nossa situação sem pé nem cabeça. Não tem sentido continuarmos dessa maneira. Eu, nessa constante agonia, o tempo todo imaginando como você vai estar. E você, numas horas doce, noutras me tratando como lixo. Não sou lixo. Tampouco quero a doçura dos culpados, artificial como aspartame.

Fico pensando como chegamos a esse ponto. Como nos permitimos deixar nosso amor acabar nesse estado, vendido e desconfiado. Não quero mais descobrir coisas sobre você, por piores ou melhores que possam ser. Não quero mais nada que exista no mundo por sua interferência. Não quero mais rastros de você no meu banheiro.

Assim, chega. Chega de brigas, de berros, de chutes nos móveis. Chega de climas, de choros, de silêncios abismais. Para quê, me diz? O que, afinal, eu ganho com isso? A companhia de uma pessoa amarga, que já nem quer mais estar ali, ao meu lado, mas em outro lugar? O tédio a dois - essa é a minha parte no negócio? Sinceramente, abro mão. Vou atrás de um outro jeito de viver a minha vida, já que em qualquer situação diferente estarei lucrando. Mas antes faço questão de te dizer três coisas.

Primeira: você não é tão interessante quanto pensa. Não mesmo. Tive bem mais decepções do que surpresas durante o tempo em que estivemos juntos.

Segunda: não vou sentir falta do teu corpo. Já tive melhores, posso ter novamente, provavelmente terei. Possivelmente ainda esta semana.

Terceira: fiquei com um certo nojo de você. Não sei por quê, mas sua lembrança, hoje, me dá asco. Quando eu quiser dar uma emagrecida, vou voltar a pensar em você por uns dias.

Bom, era isso. Espero que esta carta consiga levantar você do estado deplorável em que se encontra. Mentira. Não espero nenhum efeito desta carta, em você, porque, aí, veria-me torcendo pela sua morte. Por remorso. E como já disse, e repito, para deixar o mais claro possível, nunca mais quero saber de você.

Se, agora, isso ainda me causa alguma tristeza, tudo bem. Não se expurga um câncer sem matar células inocentes.

Adeus, graças a Deus.

Nome do remetente.

P.S.: esta não é mais uma dessas cartas-desabafo.
P.S. do P.S.: esta é uma carta-desabafo-quase-música-de-Adriana-Calcanhoto

Fernanda Young

Para o amor perdido

Fiquei triste. Num momento você estava aqui, no outro já não estava. Igual a um bicho de estimação que morre de repente e somem com o corpo.
Para onde foi tudo aquilo? Que tínhamos tão seguro. Tão certos de sua eternidade. Para onde foi, hein? Meu peito, depósito subitamente esvaziado, aperta-se no meio de tanto espaço.

Tento identificar o instante, quando o que tínhamos se perdeu. Mas nem sei se o perdemos juntos ou se juntos já não estávamos. Me desespera saber que um amor, um dia desses tão grande, possa ter desaparecido com tanta facilidade. Como já disse, estou triste; e isso me faz acreditar no poder das cartas. Não falo de tarô, mas destas, escritas e mandadas ou não mandadas. Cheias de questões e metáforas, que assim, misturadas cuidadosamente, num cafona português polido, soam mais sensatas. Qual poder espero desta carta? Simples: que deixe registrado este meu estranho momento. Quando o que devia ser alívio revela-se angústia. E a cabeça não pára, vasculhando cantos vazios.

Não gosto de perder as minhas coisas, você sabe. E hoje, cercada pela sua ausência, procuro o que procurar. Experimentando o desânimo da busca desiludida. Pois, se um amor como aquele acaba dessa maneira, vale a pena encontrar um outro? Será inteligente apostar tanto de novo?

Aposto que você está pouco se lixando para isso tudo. Que seguiu sua vida tranqüilamente, como se nada de tão importante tivesse ocorrido. E está até achando graça desta minha carta, julgando-a patética e ridícula. Você, redundante como sempre. Só há uma coisa certa a respeito disso: não desejo resposta sua. É, esta é uma daquelas cartas que não são para ser respondidas. Apenas lidas, relidas, depois picadas em pedacinhos. Sendo esse o destino mais nobre para as emoções abandonadas. Queria apenas pedir um favor antes que você rasgue este resto do que tivemos. Se algum dia, tendo bebido demais, sei lá, você acabar pensando tolices parecidas com estas, escreva também uma carta. Mesmo sem jamais saber o que você irá dizer, sei que ela fará de mim menos ridícula. Neste amor e, por isso, em todo o resto. Pois adoraria que você fosse capaz de tanto - escrever uma carta é um ato de desmedida coragem. E eu ficaria, enfim, feliz comigo, por tê-lo amado. Um homem assim, capaz de escrever bobagens amorosas.

Então é isso - como sou insuportavelmente romântica, meu Deus. Termino aqui essa história, de minha parte, contando que estas palavras façam jus ao fim do amor que senti. E deixando este testamento de dor, onde me reconheço fraca e irremediável. Porque ainda gostaria de poder acreditar que você nadaria de volta para mim.

Fernanda Young

Prezada Mulherzinha,

Se existe alguém que pode falar o que vou falar para você, sou eu. Então, por favor, tenha a humildade de admitir que sei o que estou falando. Pois o que eu te direi é duro, mas poderá te fazer um bem enorme. Chega. Chega de se comportar assim. Como se estivesse lutando pelo posto de rainha da bateria. De Miss Maravilha do Mundo. Basta de ataques, dessa competitividade suburbana eu sou a melhor, eu sou a mais alta, eu sou a mais gostosa do pedaço. Ninguém tá ligando a mínima se você corre 10 quilômetros ou se aplicou Botox nessa sua testa sem expressão. Ou se você é assim porque ainda não passa de uma menininha que quer ser mais perfeita do que a mãe, conquistar o amor do pai e ser a primeira da classe. Esse teu afã psicopata de vencer todas as paradas só te deixa ridícula. E me faz querer usar um termo que odeio: coisa de mulherzinha. Mulherzinha é que tem essa mania de estar sempre desconfiada das amigas, porque todas teriam inveja do seu corpão e do seu cabelão estilo falso-loiro-natural-cinco-tons. Lamento informar, querida, que ninguém sente inveja de você. Por isso, chega de dizer por aí que, para não atrair olho grande, é bom ficar de bico fechado sobre a tal possível promoção que você terá no trabalho. Relaxa, ninguém está a fim de ser você. Tente, portanto, ser você com mais leveza. E lembre-se: esse negócio de dizer que não se pode confiar em mulheres só comprova que você é uma pessoa maliciosa. Sendo que isso está longe de ser porque você é fêmea. Quando vejo você tagarelando sobre seus feitos sexuais, sinto-me num filme ruim sobre ginasianas americanas. Todas fanhas e excitadas. Chega, tá? De azucrinar os outros com essa sua boca-genital lambuzada de gloss, cuspindo baixos-clichês, simulando uma modernidade que você não tem. Nunca mais caia no ridículo de fazer "sexo casual" com nenhum tipo de homem, mais velho ou mais novo, casado ou solteiro, porque todo mundo já sabe que você finge tudo. Que goza, que não se sente fácil, que não liga quando os caras não telefonam no dia seguinte. Seja honesta uma vez na vida: confesse. Que você não é nada tão wild quanto se vende. Que não sabe falar tão bem inglês assim. Que fez escova progressiva. Que tem dermatite. E enfim você terá alguma paz, pois se reconhece humana, e não a barbie boba que você procura ser. Acredite: idiotice só te faz charmosa para os cafajestes. Se continuar assim, nunca vai aparecer aquele cara bacana que você gostaria que aparecesse; para lutar por você, até te conquistar, e destruir essa tua linda silhueta com uma gestação de 15 quilos. É triste, amiga Mulherzinha, mas você terá que abrir mão da máscara de rímel que cobre a sua verdade.

FÁTIMA PILLA MÜLLER

AMORES E AFINIDADES

Sinto-me uma pessoa privilegiada pelos amigos que tenho, alguns há mais de trinta anos, que compartilharam comigo, boa parte da minha vida. Marcaram meu percurso com inesquecível solidariedade, alegria , encontros coloridos pela ternura, música, poesia, aquele prazer de sentir que alguém torce por nós, ou o Amigos Futebol Clube. Concordo com o poeta que diz "Eu poderia perder todos os meus amores, mas não suportaria viver sem meus amigos"... Nestas décadas de estrada, em vários caminhos, separei-me de marcantes amores e segui minha vida, por um tempo triste e abatida, mas a cada novo amor, o espaço vazio e escuro da separação, se preenchia com mais luz, encanto e expectativas de felicidade. Uma necessária e saudável amnésia lacunar se instala a serviço da sobrevivência. Com os amigos é diferente, os poucos que perdi, jamais foram substituídos por outro amigo. A dor do afastamento é onipresente, incansável e constante, imune ao esquecimento. Como um vírus forte se instala , não nos abandona, e ao mínimo estímulo reaparece com toda intensidade atiçando uma cruel saudade. Afinidade de amigo ultrapassa o tempo, quando acontece o reencontro, mesmo depois de muitos anos, retomamos a conversa como se fosse ontem. Brota aquela vibração única do entendimento profundo, da cumplicidade, da aceitação incondicional das nossas limitações e potencialidades. Entre amigos de verdade, não há aquela crítica agressiva, apenas a análise sincera e amorosa sobre nossas derrapagens mais arriscadas. Difícil fica de administrar quando um amigo torna-se objeto de nosso investimento libidinoso, causa-nos arrepios quando nos encontramos, ficamos sem jeito e perdemos a espontaneidade que era tão solta. É um prato perfeito para se saborear o que acredito ser complicação com todos os petiscos derivados... Não em um sentido negativo, mas naquele em que nos sentimos desnudos, desconcertados, procuramos disfarçar a respiração ofegante, as pupilas dilatadas e o coração disparado. Afinal ele conhece nossas estratégias, armas de defesa e todos os pontos fracos ! Sentimo-nos frágeis, vulneráveis e capazes de jogar ao chão toda e qualquer defesa com absoluta felicidade. É a própria paixão turbinada ! Poupamos um considerável tempo de conhecimento e construção, de explicações e histórias que já cansamos de contar para nos situarmos no tempo e no espaço, para formarmos um banco de justificativas que amenize nossa culpa em possíveis deslizes. Enfim, adquirimos um saldo surpreendente na aquisição de um vínculo sólido e desafiador. Vem a tendência de recuperar a leveza nos atos e gestos, de perder o temor à exposição límpida, honesta e vergonhosamente verdadeira de tudo que somos e pensamos. Não deveria pela amizade construída anteriormente, sobrar espaço para mentiras, desonestidade, subterfúgios nem deslealdade. Penso que este é o verdadeiro amor, ao contrário da maioria das pessoas que creem que primeiro nos apaixonamos, depois casamos e quando a paixão ameniza ou adormece, nasce a amizade entre o casal para manter a união, nem que seja de fachada. Talvez eu seja uma incurável idealista, quando acredito que quero casar para sempre, com um grande amigo. Porque não tenho medo de mim, da minha história, nem dos meus sonhos ou fracassos. Tenho convicção do meu potencial de amar, especialmente um amor amigo, um homem que confiei minha dor, o lado escuro da minha lua, meus medos e fragilidades, minha coragem e determinação para ser feliz, e conheço dele as mesmas coisas, que me conduziram ao encanto e admiração. Amor e afinidade, preciosos sentimentos que busco incansavelmente para constituir meu leito de encanto e devoção, com os quais quero caminhar de mãos dadas, dando risadas, em um refúgio de paz. Vou contar meus versos, passear nas nuvens, acalmar meu choro, colher teu sorriso, dormir no teu abraço. Quero semeá-los pelo meu jardim, para que meus filhos, meus netos, tenham de herança um amor sem fim , que começou em mim. Fátima Pilla Muller - 16/ 06 / 2007

Charles Chaplin

"Se você tivesse acreditado nas minhas brincadeiras de dizer verdades, teria ouvido verdades que teimo em dizer brincando. Eu falei muitas vezes como palhaço, mas nunca desacreditei da seriedade da platéia que sorria."

Martha Medeiros

"O que quer uma mulher" - Martha Medeiros.

Um bebê nasce. O médico anuncia: é uma menina! A mãe da criança,
então, se põe a sonhar com o dia em que a sua princesinha terá um
namorado de olhos verdes e casará com ele, vivendo feliz para sempre.
A garotinha ainda nem mamou e já está condenada a dilacerar corações.
Laçarotes, babados, contos de fadas: toda mulher carrega a síndrome de
Walt Disney.
Até as mais modernas e cosmopolitas têm o sonho secreto de encontrar
um príncipe encantado. Como não existe um Antonio Banderas para todas,
nos conformamos com analistas de sistemas, gerentes de marketing,
engenheiros mecânicos. Ou mecânicos de oficina mesmo, a situação não
anda fácil. Serão eles desprezíveis? Que nada. São gentis, nos ajudam
com as crianças, dão um duro danado no trabalho e têm o maior prazer
em nos levar para jantar. São príncipes à sua maneira, e nós,
cinderelas improvisadas, dizemos sim! sim! sim! diante do altar; mas,
lá no fundo, a carência existencial herdada no berço jamais será
preenchida.
Queremos ser resgatadas da torre do castelo. Queremos que o nosso
pretendente enfrente dragões, bruxas, lobos selvagens. Queremos que
ele sofra, que vare a noite atrás de nós, que faça tudo o que o José
Mayer, o Marcelo Novaes e o Rodrigo Santoro fazem nas novelas.
Queremos ouvir "eu te amo" só no último capítulo, de preferência num
saguão de aeroporto, quando ele chegará a tempo de nos impedir de
embarcar.
O amor na vida real, no entanto, é bem menos arrebatador. "Eu te amo"
virou uma frase tão romântica quanto "me passa o açúcar". Entre
casais, é mais fácil ouvir eu "te amo" ao encerrar uma ligação
telefônica do que ao vivo e a cores. E fazem isso depois de terem se
xingado por meia-hora. "Você vai chegar tarde de novo? Tenha a santa
paciência, o que é que você tanto faz nesse escritório? Ontem foi a
mesma coisa, que inferno! Eu é que não vou prepar o jantar para você
às dez da noite, te vira. Tchau, também te amo." E batem o telefone
possessos.
Sim, sabemos que a vida real não combina com cenas hollywoodianas.
Sabemos que há apenas meia dúzia de castelos no mundo, quase todos
abertos à visitação de turistas. Sabemos que os príncipes, hoje, andam
meio carecas, usam óculos e cultivam uma barriguinha de chope. Não são
heróicos nem usam capa e espada, mas ao menos são de carne e osso, e a
maioria tentaria nos resgatar de um prédio em chamas, caso a escada
magirus alcançasse o nosso andar. Não é nada, não é nada, mas já é
alguma coisa.
Dificilmente um homem consegue corresponder à expectativa de uma
mulher, mas vê-los tentar é comovente. Alguns mandam flores, reservam
quarto em hotéizinhos secretos, surpreendem com presentes, passagens
aéreas, convites inusitados. São inteligentes, charmosos, ousados,
corajosos, batalhadores.
Disputam nosso amor como se estivessem numa guerra, e pra quê? Tudo o
que recebem em troca é uma mulher que não pára de olhar pela janela,
suspirando por algo que nem ela sabe direito o que é. .........
Perdoem esse nosso desvio cultural, rapazes. Nenhuma mulher se sente
amada o suficiente.

Antoine de Saint-Exupery

"Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo..."

Carla Motti

"Quando você estiver aqui, me adore.
Me adore com a mesma intensidade que eu vou te adorar.
Me admire, mas me corrija quando eu estiver errada(o).
Me elogie quando eu estiver certa(o), mas não encha demais a minha bola.
Me ajude a trilhar os caminhos, me ampare nas inquietações, me ensine a respeitar as diferenças entre as pessoas.
Me guie.
Esteja sempre comigo para o que der e vier.
Se não puder ou não estiver disposto(a) e preparado(a) pra me acompanhar, seja sincero(a) e fale.
Farei o mesmo por você.
Quando você estiver aqui, vamos nos abrir para o mundo, cientes de que o mundo não se resume a nós.
Mas quando você estiver aqui e sentir, constantemente, que deveria estar em outro lugar, vá embora.
Deixe comigo as boas lembranças.
E deixe guardado aí com você alguma pontinha de mim.
Serei eternamente grata(o) se você chegar e me fizer feliz assim..."

Fernando Pessoa

"Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, começa novamente.
Se estiver tudo certo, continue...
Se sentir saudades, mate-a!
Se perder um amor, não se perca!
Se achá-lo, segure-o.
Circunda-te de rosas, ama, beba e cala.
O mais, é nada!"

Fernando Pessoa

Ailin Aleixo

Seja um idiota...


A idiotice é vital para a felicidade.
Gente chata essa que quer ser séria, profunda e visceral sempre.
A vida já é um caos. Por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado?
Deixe a seriedade para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores e afins.
No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota!
Ria dos próprios defeitos. E de quem acha defeitos em você.
Ignore o que o boçal do seu chefe disse.
Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele. Pobre dele!
Milhares de casamentos acabaram não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice.
Trate seu amor como seu melhor amigo, e pronto.
Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo, soluções sensatas, mas não consegue rir quando tropeça?
Alguém que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor idéia de como preencher as horas livres de um fim de semana?
Quanto tempo faz que você não vai ao cinema?
É bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. E daí, o que elas farão se já não têm por que se desesperar?
Desaprenderam a brincar. Eu não quero alguém assim comigo.
Você quer? Espero que não!
Tudo que é mais difícil é mais gostoso, mas... a realidade já é dura; piora se for densa.
Brincar é legal!
Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a tampa do iogurte.
Ser adulto não é perder os prazeres da vida e esse é o único "não" realmente aceitável.
Teste a teoria.
Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mau humor e transmitir isso adiante ou sorrir...
Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração!
Aliás, entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho gostoso agora?

Autoria de Ailin Aleixo

{ achei neste site : http://maisvoce.globo.com/mensagem.jsp?id=16372 }

Paulo Mendes Campos

O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova York; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.

Paulo Mendes Campos