quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

FÁTIMA PILLA MÜLLER

AMORES E AFINIDADES

Sinto-me uma pessoa privilegiada pelos amigos que tenho, alguns há mais de trinta anos, que compartilharam comigo, boa parte da minha vida. Marcaram meu percurso com inesquecível solidariedade, alegria , encontros coloridos pela ternura, música, poesia, aquele prazer de sentir que alguém torce por nós, ou o Amigos Futebol Clube. Concordo com o poeta que diz "Eu poderia perder todos os meus amores, mas não suportaria viver sem meus amigos"... Nestas décadas de estrada, em vários caminhos, separei-me de marcantes amores e segui minha vida, por um tempo triste e abatida, mas a cada novo amor, o espaço vazio e escuro da separação, se preenchia com mais luz, encanto e expectativas de felicidade. Uma necessária e saudável amnésia lacunar se instala a serviço da sobrevivência. Com os amigos é diferente, os poucos que perdi, jamais foram substituídos por outro amigo. A dor do afastamento é onipresente, incansável e constante, imune ao esquecimento. Como um vírus forte se instala , não nos abandona, e ao mínimo estímulo reaparece com toda intensidade atiçando uma cruel saudade. Afinidade de amigo ultrapassa o tempo, quando acontece o reencontro, mesmo depois de muitos anos, retomamos a conversa como se fosse ontem. Brota aquela vibração única do entendimento profundo, da cumplicidade, da aceitação incondicional das nossas limitações e potencialidades. Entre amigos de verdade, não há aquela crítica agressiva, apenas a análise sincera e amorosa sobre nossas derrapagens mais arriscadas. Difícil fica de administrar quando um amigo torna-se objeto de nosso investimento libidinoso, causa-nos arrepios quando nos encontramos, ficamos sem jeito e perdemos a espontaneidade que era tão solta. É um prato perfeito para se saborear o que acredito ser complicação com todos os petiscos derivados... Não em um sentido negativo, mas naquele em que nos sentimos desnudos, desconcertados, procuramos disfarçar a respiração ofegante, as pupilas dilatadas e o coração disparado. Afinal ele conhece nossas estratégias, armas de defesa e todos os pontos fracos ! Sentimo-nos frágeis, vulneráveis e capazes de jogar ao chão toda e qualquer defesa com absoluta felicidade. É a própria paixão turbinada ! Poupamos um considerável tempo de conhecimento e construção, de explicações e histórias que já cansamos de contar para nos situarmos no tempo e no espaço, para formarmos um banco de justificativas que amenize nossa culpa em possíveis deslizes. Enfim, adquirimos um saldo surpreendente na aquisição de um vínculo sólido e desafiador. Vem a tendência de recuperar a leveza nos atos e gestos, de perder o temor à exposição límpida, honesta e vergonhosamente verdadeira de tudo que somos e pensamos. Não deveria pela amizade construída anteriormente, sobrar espaço para mentiras, desonestidade, subterfúgios nem deslealdade. Penso que este é o verdadeiro amor, ao contrário da maioria das pessoas que creem que primeiro nos apaixonamos, depois casamos e quando a paixão ameniza ou adormece, nasce a amizade entre o casal para manter a união, nem que seja de fachada. Talvez eu seja uma incurável idealista, quando acredito que quero casar para sempre, com um grande amigo. Porque não tenho medo de mim, da minha história, nem dos meus sonhos ou fracassos. Tenho convicção do meu potencial de amar, especialmente um amor amigo, um homem que confiei minha dor, o lado escuro da minha lua, meus medos e fragilidades, minha coragem e determinação para ser feliz, e conheço dele as mesmas coisas, que me conduziram ao encanto e admiração. Amor e afinidade, preciosos sentimentos que busco incansavelmente para constituir meu leito de encanto e devoção, com os quais quero caminhar de mãos dadas, dando risadas, em um refúgio de paz. Vou contar meus versos, passear nas nuvens, acalmar meu choro, colher teu sorriso, dormir no teu abraço. Quero semeá-los pelo meu jardim, para que meus filhos, meus netos, tenham de herança um amor sem fim , que começou em mim. Fátima Pilla Muller - 16/ 06 / 2007

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